Yamas e Niyamas: Os Fundamentos Éticos do Yoga

por | jun 1, 2024 | Uncategorized | 0 Comentários

Falaremos neste artigo sobre os fundamentos éticos do Yoga, um assunto muito importante que muitas vezes é esquecido. Nos tempos atuais, onde foco nas Asanas tem sido o ponto principal dentro das praticas de Yoga, negligenciamos alguns principios basicos desta tradição milenar que não se limita apenas as Asanas (que sim são importantes) porém é apenas uma parte de um conjunto de saberes ancestrais que vem sido cultivado a milenios, que para quem busca o caminho de Yoga deve estar presente em sua busca pessoal (que vai além do tapetinho) e também presente nas aulas de Yoga, que de maneria prática alguns elementos podem ser contruidos durante uma aula, aproximando assim o aluno do verdeiro objetivo do Yoga, que é:

 “Yoga chitta vritti nirodhah” (Yoga é acalmar as flutuações/padrões da mente).

Então os Yamas e Niyamas são os princípios éticos e morais que constituem a base do Yoga, conforme descrito no Yoga Sūtra de Patañjali. Esses preceitos são vistos como a primeira e a segunda das oito partes (Aṣṭāṅga) do caminho do Yoga.

Yamas: significa controle ou domínio. Os Yamas são as disciplinas éticas que orientam como devemos nos comportar em relação aos outros, ao mundo e consigo mesmo. Existem cinco Yamas principais segundo o Yoga sutra de Patanjali:

  • Ahiṃsā (अहिंसा) Não-violência: é a prática da não-violência em pensamento, palavra e ação. Este princípio é fundamental em todas as tradições indianas, incluindo o Jainismo e o Budismo. Aqui quando abordamos a não vioência estamos falando no sentindo mais amplo, de não ser violento nas ações, nas intenções, nas palavras e pensamentos. Em suma, não devemos causar danos as pessoas, ao o meio ambiente e a sí mesmo.

Yoga Sūtra, ahimsā-pratiṣthāyām tat-sannidhau vaira-tyāgaḥ || 2.35 || (Na presença de alguém que está firmemente estabelecido na não-violência, a hostilidade diminui).

  • Satya (सत्य) Verdade / Não mentir: é a prática da veracidade, onde se deve falar a verdade com gentileza e compaixão, a verdade deve ser dita sem causar dano. Devemos evitar a falsidade de todas as formas. Aqui, além de sermos verdadeiros com os outros, devemos também ser verdadeiros com nós mesmos, com quem se é, ser coerente com aquilo que se fala com aquilo que faz.

Yoga Sūtra satyapratiṣṭhāyāṃ kriyāphalāśrayatvam || 2.36 ||  (Quando a veracidade é alcançada, as palavras (do Yogui) adquirem o poder de torná-las frutíferas).

  • Asteya (अस्तेय) Não roubar: significa não roubar, tomar ou se apropriar daquilo que não nos pertence, sejam eles objetos ou idéias, promovendo assim honestidade e a integridade. A prática de Asteya envolve a honestidade em todos os níveis, incluindo pensamentos e desejos.

Yoga Sūtra asteyapratiṣṭhāyāṃ sarvaratnopasthānam || 2.37 || (Quando o Yogui está estabelecido na honestidade, as riquezas interiores se apresentam).

  • Brahmacarya (ब्रह्मचर्य) Continência: é quando uma pessoa controla completamente seu corpo e mente por meios ascéticos. Porém pode ser um pouco complexo falar sobre isso porque dependendo da linha a interpretação pode ser diferente, mas em um sentido mais amplo, refere-se ao controle dos sentidos e à moderação nos prazeres sensoriais, trazendo para o nosso entendimento de que tudo que existe nessa matéria é Shakti (divino) enxergamos e reconhecemos isso, então tudo o que existe aqui é um meio, para nos levar a reconhecer aquilo que já somos, o ser ilimitado, livre de dor e sofrimento.

Yoga Sūtra brahmacaryapratiṣṭhāyāṃ vīryalābhaḥ || 2,38 || (Quando a continência é estabelecida, Vīrya (“imutabilidade”) é adquirido).

Comentário: Swami Satchidananda sugere que brahmacarya não é apenas sobre abstinência sexual, mas sobre a canalização da energia sexual para atividades espirituais. O controle dos sentidos resulta em maior vitalidade, clareza mental e foco.

  • Aparigrahā (अपरिग्रह) Não Possessividade: é o princípio de não acumulação ou desapego não somente de bens materias, mas também de idéias e pessoas. Mantemos o desejo naquilo que é necessario, sem acumular.

Yoga Sūtra aparigrahasthairye janmakathaṃtāsaṃbodhaḥ || 2,39 ||

Comentário: Swami Satchidananda comenta no Yoga Sūtra que, a prática de aparigrahā nos liberta da ansiedade e do medo relacionados à perda. Quando abandonamos o apego aos bens materiais, ganhamos uma visão mais clara do nosso propósito de vida e da nossa jornada espiritual.

Niyamas: significa “regra”, “observâncias pessoais” ou “práticas de autocontrole”. Estão ligadas à vida interior do praticante, têm a ver com a nossa relação com a vida. Sendo assim, os niyamas são práticas pessoais que ajudam a purificar o corpo e a mente. Existem cinco Niyamas principais:

  • Śaucan (शौच): (Pureza): Śaucan refere-se à limpeza do corpo e tanto quanto da mente, é uma mente pura e livre de maus pensamentos e comportamentos. Śaucan inclui pureza da fala e mente, raiva, ódio, preconceito, ganância, luxúria, orgulho, medo e pensamentos negativos são fontes de impureza mental.

Yoga Sūtra śaucāt svāṅgajugupsā parairasaṃsargaḥ || 2,40 ||  (Patañjali ensina que a pureza interna e externa leva à indiferença ao corpo que se estende ao contato com outros corpos).

Comentário: Swami Satchidananda destaca que śaucan envolve práticas físicas, como a higiene corporal, e práticas mentais, como a purificação dos pensamentos. A pureza nos ajuda a transcender a identificação com o corpo físico, permitindo uma maior conexão com o nosso eu espiritual.

  • Santoṣa सन्तोष (Contentamento): Santoṣa é a prática do contentamento e da aceitação, da compreensão e aceitação de si mesmo, do ambiente e das circunstâncias como são, è manter uma mente alegre e satisfeita. Não é o estado de abandono ou de ausência de necessidades, mas sim o estado de não desejar muito nem de desejar menos do que se precisa. É o hábito de ser capaz de aceitar as circunstâncias em que se encontra, sem ficar chateado, de aceitar a si mesmo, é ser equânime.

Yoga Sūtra saṃtoṣādanuttamasukhalābhaḥ || 2,42 ||  (afirma que, ao cultivar o contentamento, obtém-se uma felicidade insuperável).

Comentário: Swami Satchidananda explica que santoṣa é a aceitação do que temos e do que somos. A prática do contentamento nos liberta da insatisfação e nos permite encontrar felicidade no momento presente.

  • Tapas तपस् (Disciplina/ esforço sobre si): é a prática da autodisciplina e do esforço ardente, tapas é representado simbolicamente pelo fogo, calor, a energia inerior que ilumina e transmuta o que nãos serve mais. Então tapas é acese, é determinação, é disciplina e forçade vontade.  Refere-se a um esforço pessoal de disciplina, empreendido para atingir um objetivo na busca espiritual.

Yoga Sūtra kāyendriyasiddhiraśuddhikṣayāt tapasaḥ || 2,43 || (Patañjali diz que a prática da disciplina leva à destruição das impurezas e à perfeição do corpo e dos sentidos).

Comentário: Swami Satchidananda define tapas como a prática de suportar dificuldades para alcançar um objetivo superior. A disciplina constante purifica o corpo e a mente, preparando-nos para a prática espiritual mais profunda.

  • Svādhyāya स्वाध्याय (Auto-estudo): é a reflexão de si mesmo, o estudo das escrituras sagradas e a contemplação do próprio ser. E também é a aplicação deste conhecimento na pratica.

Yoga Sūtra svādhyāyād iṣṭadevatāsaṃprayogaḥ || 2.44 ||  (Patañjali afirma que o auto-estudo leva à união com a divindade).

Comentário: Swami Satchidananda ressalta a importância de estudar textos sagrados e refletir sobre seu significado em nossas vidas. O auto-estudo nos ajuda a entender melhor nossa verdadeira natureza e a nos aproximar da divindade.

  • Īśvara Praṇidhāna ईश्वरप्रणिधान (Entrega ao absoluto/ o ilimitado): é a prática da entrega, entregar o fruto de nossas ações ao absoluto, a realidade imutável, se desapegando dos os resultados. É a aceitação do momento presente.

Yoga Sūtra samādhisiddhirīśvarapraṇidhānāt || 2,45 || (é dito que a entrega ao Ser Supremo conduz ao estado de samādhi (absorção meditativa).

Comentário: Swami Satchidananda explica que a entrega ao Ser Supremo implica confiar no divino e deixar de lado o ego. Esta prática nos ajuda a alcançar um estado de paz interior e união com o todo.

Conclusão

Os Yamas e Niyamas são essenciais para quem deseja seguir o caminho do Yoga de forma íntegra e profunda. Eles proporcionam uma base ética que sustenta todas as outras práticas de Yoga. Estabelecer essas disciplinas em nossas vidas diárias ajuda a cultivar um ambiente de paz, harmonia e crescimento espiritual.

Prática Individual

Seguir todos os Yamas e Niyamas de uma vez pode ser desafiador. Portanto, encorajo você a escolher um desses preceitos para focar e praticar em sua vida diária, os outros virão como consequencia da prática constante. O caminho se faz caminhando.

Referências

  1. Yoga Sūtras de Patañjali: Tradução e Comentário por Swami Satchidananda.
  2. Bhagavad Gītā: Capítulos sobre ética e dever.
  3. Haṭha Yoga Pradīpikā: Discussão sobre a importância da pureza e da autodisciplina.

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