O yoga é frequentemente descrito como um caminho interno, uma jornada de autodescoberta e crescimento espiritual que vai além dos exercícios físicos. Este caminho interior envolve a exploração da mente, das emoções, dos pensamentos e das limitações do corpo físico levando ao autoconhecimento e à conexão com algo maior.
Todavia, o caminho do yoga é compreendido através de uma perspectiva associada exclusivamente a execução das āsanas (posturas),esse entendimento raso e distorcido sobre o que de fato é o yoga vem ganhando a cada dia mais popularidade entre os adeptos interessados pelos efeitos secundários de uma prática focada apenas nos ganhos da flexibilidade, mobilidade e força. Não negamos os resultados acerca do bem-estar, saúde e redução dos níveis de estresse e ansiedades adquiridos através de uma prática constante, respeitosa e consciente, no entanto, o caminho do yoga enquanto autoestudo e autotransformação, de conduta e ética morais não se atém aos instantes em que estamos praticando as posturas sob um tapete. É algo que maior que os nossos condicionamentos e negações,é sobre a atitude correta que devemos ter e levar em nosso dia a dia,é sobre reconhecer a nossa humanidade e o nosso papel muito além dos personagens, das personas que identificamos como parte intrínseca e verdadeira do nosso ser.
No verso 2.48 Bhagavad Gītā podemos observar como o conceito de yoga vai além do entendimento yoga-posturas .“ Penetrado do espírito de ioga, ó príncipe, realiza os teus trabalhos e mantém-se em sereno equilíbrio, na certeza de que tanto o sucesso quanto o insucesso são bons. Essa serenidade interior é ioga.
Este ensinamento ligado ao Karma Yoga (o yoga da ação desinteressada) pode ser aplicado na vida cotidiana, incentivando-nos a trabalhar com dedicação e sinceridade, mas sem nos deixarmos abater ou exaltar pelos resultados. Ele promove a ideia de que o foco deve estar no processo, na ação em si, e não nos frutos dessa ação. Essa atitude ajuda a reduzir o stress, a ansiedade e a frustração, cultivando uma vida mais equilibrada e harmoniosa.
É importante salientar a importância das diferentes ferramentas que o yoga nos disponibiliza como as āsanas e os prāṇāyāmas, quando bem executados e livres do desejo limitado a mera execução das posturas, liberto das comparações e dos julgamentos que direcionam o olhar para fora tornam-se meios de crescimento e aprofundamento que viabilizam trazer para o nosso cotidiano mais clareza, sinceridade, objetividade e comprometimento consigo e com os demais.
Em outra citação da Bhagadad Gītā – 6.8 , o yoga é também compreendido como um caminho de jñāna-dīptiḥ ( o brilho do conhecimento).“ Esse é um iogue, um homem integral, com o coração cheio de sabedoria e beatitude; iluminado , alteia-se às regiões do espírito, senhor dos seus sentidos; dá o mesmo valor a todas as coisas: a uma pedra ou um torrão de barro – a um pedaço de ouro”.
Este verso ensina que o verdadeiro progresso no yoga vai além das práticas externas; ele envolve a conquista interior do conhecimento, da autossuficiência e do controle dos sentidos. Alcançar a equanimidade em relação aos objetos materiais e manter a estabilidade diante das dualidades da vida são sinais de um yogi avançado.
Em outra citação da Bhagadad Gītā – 6.8 , o yoga é também compreendido como um caminho de jñāna-dīptiḥ ( o brilho do conhecimento).“ Esse é um iogue, um homem integral, com o coração cheio de sabedoria e beatitude; iluminado , alteia-se às regiões do espírito, senhor dos seus sentidos; dá o mesmo valor a todas as coisas: a uma pedra ou um torrão de barro – a um pedaço de ouro”.
Este verso ensina que o verdadeiro progresso no yoga vai além das práticas externas; ele envolve a conquista interior do conhecimento, da autossuficiência e do controle dos sentidos. Alcançar a equanimidade em relação aos objetos materiais e manter a estabilidade diante das dualidades da vida são sinais de um yogi avançado.
Nos versos 13 -14,capítulo 6 da Bhagadad Gītā , a prática da meditação é destacada como uma prática que envolve tanto o preparo físico quanto o mental. Manter uma postura correta, controlar a respiração e os pensamentos, e concentrar-se em um ponto fixo são técnicas que ajudam a mente a se acalmar e se focar. A prática regular pode levar ao desenvolvimento de uma mente pacífica, capaz de permanecer estável mesmo diante das adversidades.
Verso 13 | “Mantém o corpo, o pescoço e a cabeça eretos, com a espontânea naturalidade, fazendo os olhos convergirem na base do nariz, pelo poder da visão interna”.
Verso14 | “ Está firmemente estabelecido no espírito de bramacharya, livre de qualquer solicitude, todo focalizado em mim e a mim devotado com todo o seu ser”.
O yoga também envolve princípios éticos e de autodisciplina que guiam a vida. Os Yamas (princípios de conduta com o mundo) e Niyamas (princípios de autodisciplina) incentivam comportamentos como a não-violência, a honestidade, o contentamento e o autoestudo. Levar o yoga para fora do tapete também significa aplicar os princípios da prática no dia a dia, cultivando uma atitude de aceitação, compaixão e equilíbrio em todas as situações. Esses princípios são universais e aplicáveis a todos, independentemente de cultura, religião ou crenças pessoais. https://seralquimia.com.br/yamas-e-niyamas-os-fundamentos-eticos-do-yoga/
Feuerstein (2009, p.148) enfatiza em seu livro a conduta da veracidade em nossa vida.
[…] Como no caso do não ferir, a veracidade deve ser praticada em relação ao corpo, à fala e à mente. Assim ela requer virtudes associadas como honestidade, retidão, integridade, sinceridade, franqueza, abertura e inocência que são destinadas a revogar a mentira, desonestidade, falsidade, fraudulência, pretensão, duplicidade, hipocrisia, afetação, posturas falsas, etc. Sem a veracidade, a sociedade humana seria praticamente impossível. Podemos reconhecer com a facilidade como os numerosos lapsos em veracidade que marcam a nossa sociedade moderna compilam, sem necessidade, a nossa vida.
Como destacado acima, ser verdadeiro consigo e com os demais implica uma série de ações que extrapolam o ato da fala em si, ser sincero e não ferir é repensar se a minha fala é tão importante e necessária dentro de uma determinada situação em um determinado momento, mas também não é sobre se calar diante de um contexto de eminente injustiça. A franqueza e integridade assim como outros atributos igualmente virtuosos exprimem como a mente pode estar obstruída, ou não. O senso de ser humano reconhecendo a própria humanidade é de fato uma prática reflexiva e intuitiva e, portanto, determina de certa forma como ponderamos e vivenciamos o yoga além do tapete.
Feuerstein (2009, p.47) aponta a autotranscendência como a superação de padrões enraizados.
[…]Também transcendemos a nós mesmos quando aprendemos, mudamos de ideia a respeito de algo, assumimos um regime dietético ou de exercícios, rompemos com um padrão negativo de hábitos, superamos o medo, protestamos de modo corajoso contra um comportamento ou regra censurável, e assim por diante.
A maturidade e o crescimento pessoal são reflexos de uma busca e práticas sinceras que podem ser aplicadas em nosso cotidiano, dar-se conta das próprias mazelas e das projeções acerca de vários aspectos da nossa vida são oportunidades para observar e transformar a condição do ego que é limitado e autocentrado. O cidadão do bem é aquele que reconhece a sua própria ignorância, a mesma que separa, julga e condena. Esse mesmo cidadão é também aquele que reconhece que as suas atitudes impactam vidas além da sua, compreender que todas as formas de vidas são igualmente importantes é um passo para a redenção.
A partir destes pequenos pontos esboçados nos parágrafos acima podemos perceber que o yoga é um caminho muito maior e mais abrangente que possamos imaginar, é um caminho que não está restrito as posturas feitas por alguns dias e alguns momentos em nossa rotina. Existe uma prática além do tapete que é a própria vida pulsando em cada um de nós, com as nossas peculiaridades enquanto indivíduos e também como um corpo coletivo, um corpo único. A todo instante, yoga.
Referências:
FEUERSTEIN, Georg. As virtudes do yoga: antigos ensinamentos para esta época de crise global. Tradução: Marcia Filker.- São Paulo: Pensamento, 2009.
Bhagadad Gītā: Tradução de Huberto Rohden